Cedemo-vos as Berlengas
Na caixa de comentário, um gentil socialista acabou de fazer, em nome do Grande Pai Nosso o Estado (sujeito não identificado da primeira pessoa do plural - “nós”), uma altruísta oferta a todos os liberais: «Cedemo-vos as Berlengas. Tendo em conta o vosso número, serve perfeitamente.»
Agradecendo antes de mais o bom gesto, em meu nome e no dos parcos “liberais” que por aí andam a contaminar o país, aproveito esta óptima oportunidade para sublinhar a diferença essencial entre o raciocínio socialista e o raciocínio liberal:
- o socialista dá. Dá o que não é dele é certo, mas o que interessa?, a nobreza do gesto suplanta esses pequenos pormenores do Direito tal como o ”nós” suplanta sempre os difusos “eles” que o raciocínio socialista nunca consegue ver como um concreto “tu/teu”.
- o liberal pensa. Pensa sobre a legitimidade do acto de dar e contextualiza-o no concreto da situação: as Berlengas pertencem ao Concelho de Peniche, o que confere outra realidade ao acto de dar um território que em rigor não pode sequer ser legitimamente dado pelo sujeito que a tal se arroga.
Ouvindo isto, passa pela mente do socialista, por breves segundos apenas, que existem de facto pessoas em Peniche que habitam as Berlengas. Mas o “come e cala” (e de preferência agradece depois) logo retoma o seu devido lugar e o socialista responde: os penichenses que se amanhem.