No seguimento do post anterior, (sobre porque é que partidos de auto-proclamada “direita” não se assumem como socialistas apesar de o serem), interessa-me mais perceber como é possível que não haja sobre isso uma consciência generalizada, e os efeitos que isso tem no debate político em Portugal.
Não pode haver “novos rumos” sem que isso dependa do conhecimento das actuais coordenadas daquilo que se pretende mover para outro ponto, tal como mudanças na direcção dos assuntos políticos em Portugal não se podem fazer sem a consciência da ideologia de que partimos.
Ora, o que acontece é que os partidos (incluo militantes e simpatizantes) de direita portugueses estabelecem as suas coordenadas de forma relativa a outro partido-irmão (o PS), tendo acabado por esquecer a consanguinidade ideológica para se referirem a si mesmos como (relativamente mais à) “direita”. Com esta estratégia de definição, o PSD posiciona-se no mercado partidário português seguindo os critérios da elegibilidade, em concorrência com um produto semelhante a si próprio, aumentando assim a probabilidade de seduzir habituais consumidores insatisfeitos.
Mas o problema de perder referências absolutas à ideologia de base acarreta um grave empobrecimento do debate político, logo da riqueza da democracia. Copiando o raciocínio da definição através de coordenadas relativas, os media qualificam de extrema-direita (com todos os tabus associados à designação), qualquer espectro político (relativamente) mais à direita que o PSD (nota para o desconforto com que a TVI 24 desconvidou o presidente do PNR para um debate, sem falar da ausência generalizada do partido na maior parte dos medias), estimulando a tendência para uma cada vez maior uniformização do leque ideológico em Portugal, com partidos como o CDS cada vez mais preocupados com a mão do Estado no social, e com a infertilidade do terreno político português em criar e fazer crescer partidos de ideologias diferentes.
Termos perdido o Norte no que toca à auto e hetero definição dos partidos revela um Portugal pouco filosófico e pouco preocupado com questões de fundo ético-políticas.
Retomar o Norte, isto é, assumir as coordenadas ideológicas dos partidos em absoluto e não relativamente à oferta já existente, é um passo necessário para que possamos tomar consciência da oferta ideológica em Portugal (muito pouco rica), o que só por si recolocaria o debate político naquilo em que ele deve estar essencialmente centrado: a livre concorrência entre morais.