José Pacheco Pereira escreveu um texto sem tretas, leia-se sem argumentos políticos, preferindo um texto com realismo, leia-se com argumentos partidários.
No estilo vender a alma ao diabo para comprar um mal menor, José Pacheco Pereira constata que na campanha de Ferreira Leite «há erros, mesmo erros graves? Certamente que há. Tem que se engolir alguns sapos, para usar a terminologia culinário-diabólica que por aí anda? E depois?» E depois nada, não há argumentos que possam destruir o tom conformista-pessimista de JPP, aliás os militantes do PSD que têm levantado problemas só o têm feito, não por terem razões de fundo, mas sim porque «não estão cá os nossos amigos, não está cá a nossa tribo, estão cá alguns inimigos figadais?».
Reduzindo assim a actividade do seu partido a birras entre amigos e inimigos, JPP dirige-se directamente ao interior do partido, mostrando indirectamente ao exterior que até aos militantes do PSD é preciso convencer em votar em Manuela Ferreira Leite, e isso não pelas qualidades da mesma (às quais certos membros do PSD são aparentemente impermeáveis), mas sim por um raciocínio de mal menor: «Não gostam de Manuela Ferreira Leite? E depois, gostam mais de Sócrates?».
Os estranhos às querelas do PSD não podem evitar de tirar a conclusão lógica de que não há razões em si para ter esperança em Manuela Ferreira Leite, mas apenas a certeza de que continuar com Sócrates seria pior.
No fundo não há diferença com o texto que Sócrates escreveu há dias dizendo que enfraquecer o PS era querer que a direita ganhasse. Num certo momento temos a sensação que PS e PSD discutem apenas entre si o poder, motivando internamente as tropas, e, neste caso, assumindo sem tretas que nesse combate «não há razões máximas, gloriosas, teoricamente atractivas».