Vi o debate apenas ontem à noite e tenho de confessar que há menos um indeciso no eleitorado. Não sou eu.
Por pontos, por nenhuma ordem em especial e tentando ser o mais imparcial possível:
- É abissal a diferença de postura entre José Sócrates (JS) e Manuela Ferreira Leite (MFL): uma é estadista, outro acorda a pensar em "medidinhas"; uma discute política de alto nível, outro distribui rebuçados; muito pessoalmente, um é apoucado porque até chega a dar a sensação de que nem percebe aquilo que diz, outra é excessivamente confiante.
- a saída do "orfão" de MFL roça o mau gosto; mas ficou-lhe bem pela espontaneidade e despreocupação com que diz estas coisas. MFL não quer agradar a ninguém; JS só quer agradar.
- JS vinha preparado para discutir o programa do PSD. MFL vinha preparada para responder às perguntas. Deu a sensação de que não se preparou como se achasse (como disse ao principio) que a sua vida politica, profissional e pessoal foi um treino para o que aí vem.
- Curiosamente, e não tinha pensado nisto até ler este post do Rodrigo Adão da Fonseca no Jamais, o programa do PSD está a ser dos mais analisados; já o do PS, à excepção da ridícula medida dos 200eur por bebé e os TGVs, ninguem sabe muito bem o que lá anda. No fundo é perigoso, e os outros partidos, particularmente o PSD, deveriam fazer este trabalho.
- A resposta à questão da dupla candidatura de Alberto João Jardim convenceu-me. De facto, quem dali sair primeiro ministro, não irá ocupar um lugar de deputado. Já a questão de António Preto continua a ser uma pedra no sapato.
- Muito francamente, não consigo ver MFL a fazer melhor na Educação. Aliás, imgino-a altiva e arrogante, estoicamente ignorando tudo e todos e com guerra civil à porta. Pior: MFL cultiva esta ideia de não ceder à opinião pública até ao limite do irrazoável.
- Sócrates atacou, atacou, atacou; MFL não defendeu, limitou-se a responder às perguntas e a esclarecer com a calma de quem não tem nada a esconder. Diria mesmo: com a calma de de quem vê em JS (no mínimo) um neto que não sabe o que diz nem o que faz.
- A questão, logo à partida do "nós não combinamos falar disso" (ou coisa assim) teve muita piada.
- Desmistificou-se a privatização do SNS (em certa medida) e outras inverdades. Curiosamente, MFL teve uma saída com a qual concordo: a estratégia do PS parece ser a de criar FUD (Fear, Uncertanty and Doubt). Qualquer coisa como "Tenham medo, muito medo, desta direita que quer destruir o Estado Social e privatizar até as pedras da calçada."
- Quanto à questão das mudanças de opinião de MFL, há dois aspectos. Efectivamente, MFL mudou de opinião e explicou que contextos diferentes exigem medidas diferentes. É verdade, embora tenha soado a frágil. Em segundo lugar, tive a clara sensação de que MFL iria dizer, a qualquer momento, que não se respnsabilizava pelo governo de Durão Barroso. Quase o fez, quando disse que "eu nunca fui primeira-ministra".
- Já a questão dos espanhois e do TGV foi uma surpresa para todos. A julgar pelas reacções do outro lado da fronteira, a carapuça serviu. Já quanto às portagens nas SCUTs, a explicação de que agora não adianta nada não encheu.
- De forma geral, pareceu-me ter sido o confronto entre uma máquina eleitoral e a espontaneidade. De um lado, uma senhora que tanto se lhe dá como se lhe deu ser eleita; do outro, o desespero de alguém que vive de votos e se alimenta de poder.
Sim, isto é o mais imparcial que consigo ser.