Eu, o vanguardista da nova escola
José Sócrates escreveu um artigo de opinião no JN onde define esquerda à custa de direita, ou vice-versa, usando para tal a categoria de tempo e a dicotomia futuro/passado.
A palavra “futuro” aparece nove vezes no texto, igual número de vezes que palavras da família do “moderno”(/”modernização”), para definir a esquerda, em contraposição a expressões referentes ao tempo passado, também contadas nove vezes, que pretendem definir a direita. O que é novo é bonito, o que é velho cheira a mofo.
A esquerda moderna assume-se, com Sócrates de forma ainda mais visível, como uma corrente estética motivada pela “urgência” da acção, sem qualquer reflexão acerca da legitimidade, eficácia ou consequências da mesma: o que interessa é agir urgentemente de modo a trazer o futuro ao presente o mais rápido possível; andar para a frente por andar é ser moderno. Sócrates auto-proclama-se vanguardista, criador do novo, que os outros não acompanham por insensibilidade estética à força do futuro. Sei que insisto nas metáforas da Estética, mas tal é inevitável dado o vazio filosófico por trás de uma ideologia da bondade da acção em si mesma, que enaltece o novo por si só, independentemente das suas qualidades concretas.
Mas numa coisa Sócrates terá acertado: grande parte da direita é apenas o revés dessa estética de esquerda, enaltecendo a conservação em si mesma, independentemente da reflexão no valor moral daquilo que se pretende conservar.
Para ambos a categoria de tempo é essencial. Para um a ideia utópica de progresso, para outro a ideia romântica de paraíso perdido.