Genericamente existem efeitos que podemos esperar à partida de um sistema de decisão colectivo com voto universal num orçamento que inclui a capacidade de:
- cobrar receitas a uns
- pagar a outros (salários, obras públicas, despesa geral, etc)
- decidir criar serviços (que requerem trabalhadores e gestores)
Podemos assim identificar como:
- Os beneficiários líquidos: pensionistas, receptores de subsídios vários, funcionários públicos e equiparados, a classe política, negócios privados especialmente dependentes de forma directa e indirecta de despesa pública ou ainda de incentivos vários como juros bonificados ou apoios especiais ao investimento (e não se trata aqui de fazer um ataque à dignidade e direitos de quem por exemplo produz trabalho público de que todos nós beneficiamos, é uma mera constatação de facto, o pagamento de impostos por funcionários públicos e outros é uma ilusão contabilística, dado que todo o rendimento tem origem em impostos).
- Os pagantes líquidos: trabalhadores privados, empresários, empresas, que pouco utilizam benefícios estabelecidos e assim são a origem da receita.
Nota: não esquecer que o sistema de pagamento de reformas baseia-se em cobrar impostos à população activa para os transferir de imediato para a população reformada, assegurando assim que os jovens pagam impostos numa altura em que precisam de investir (casa, carro, filhos, etc.) para transferir para aqueles que deveriam ter poupança acumulada e capacidade para ajudar esses jovens. Podemos chamar a isto a completa deturpação do que seria natural, fazendo decair os laços de dependência (e até respeito hierárquico) intra-familiar e comunitária para ganho e domínio total do estatismo sobre todos.
Esses efeitos a esperar a priori são:
- Sempre que um benefício é estabelecido, tende a incentivar procura adicional por esse benefício (exemplo: qualquer sistema de rendimento mínimo tende a desincentivar a procura de trabalho nos rendimentos ligeiramente superiores, criando uma zona onde os quase-que-beneficiam desistam de produzir ou então de reivindicar que os passe a abranger também, iniciando-se assim uma nova ronda de subida de benefícios).
- Sempre que um beneficiário líquido é adicionado, o conjunto de pagadores líquidos diminui em termos relativos e a carga fiscal tem de aumentar em valor total a ser distribuído por um número menor.
Agora podemos adicionar o jogo político que se especializará naturalmente a prometer benefícios a uns, cobrando a outros, e podendo ao mesmo tempo aumentar o número de trabalhadores gestores do sistema.
Junte-se o voto universal e sabemos que a política tratará mesmo que inconscientemente de apelar crescentemente aos beneficiários, apontando o dedo a um cada vez menor número de pagantes líquidos (por exemplo, apesar de aproximadamente 20% dos contribuintes pagar 80% de toda a colecta de IRS nunca deixarão aqueles de ser objecto de todas as atenções).
Basicamente existe um óbvio conflito de interesses onde:
- o montante de benefícios (indicador: “despesa pública/ PIB” que em todos os Estados incluindo nos EUA nunca parou de subir) e número de beneficiários tende sempre a aumentar (ex: funcionários públicos e equiparados, pensionistas e equiparados, trabalhadores privados dependentes da despesa e investimento público como as obras públicas ou indústria de defesa)
- os beneficiários têm capacidade de votar o orçamento seguindo o seu interesse próprio, individual e como classe.
Para além (e quem sabe até ainda mais relevante) do puro raciocínio monetário-contabilístico é necessário pensar na crescente rede de influência de qualquer decisor público, do sistema partidário, dos reguladores, do sistema de justiça em todo e qualquer aspecto da sociedade civil, até que a partir de certa altura um e outro confundem-se sendo impossível a sua separação clara (incluindo separar claramente beneficiários e pagantes líquidos), não existindo actividade alguma que se possa designar como espontânea, como moralmente praticada por pura decisão individual ou comunitária (a actividade de ajuda aos outros reflecte bem isso, o estado social é um processo colectivo que “asfixia” as formas espontâneas e por isso mesmo moralmente superiores de ajuda, pelo contrário passa-se a delegar e responsabilizar [desresponsabilizando-se individualmente e conscientemente de o fazer] o sistema).
No fundo, poderá existir mesmo uma inevitabilidade histórica para a morte por asfixia.
PS: se juntarmos o sistema de socialismo monetário (e a parceria público privada que é o sistema bancário e os bancos centrais) à equação, assegurando este bolhas e crises crónicas crescentes, que ajudam a criar um clima de incerteza e ainda maior sensação de dependência do estatismo, ficamos com o cenário perfeito. O estatismo cria os males que se propõe curar (por isso todas as grandes emergências quer económicas, quer conflitos e guerras, quer mesmo o discurso alarmante de pandemias e aquecimento globais, etc, ajudam ao argumento).