Ao contrário do que é amplamente aceite por aí – entre blogues e jornais – não considero que o grande derrotado destas autárquicas tenha sido o BE. É verdade que a sua votação em termos globais (3% dos votos expressos, num total aproximado de 167.000) é um péssimo resultado. Mas, o BE não tem um passado que o suporte nas autárquicas.
O grande derrotado nestas autárquicas, em minha opinião, foi o PCP. Não só perdeu sete câmaras - Aljustrel, Beja, Viana do Alentejo, Vila Viçosa, Marinha Grande, Monforte e Sines -, das quais três (3) são cidades, como não recuperou ao PS algumas que esperava, como, por exemplo, Évora ou Odemira. A lição a tirar é clara como água limpa e darwiniana: quem não se adapta morre.
Quanto aos resultados em Lisboa... eles representam bem o paradigma do estado actual da política nacional. O PS ganhou, mas à conta da cupidez de outros, como se passa a explanar.
O oportunista bloquista ex-bloquista Sá Fernandes – o Zé que já não fazia falta nenhuma – juntou-se ao PS para não perder o tacho emprego lugar.
A aproveitadora manipuladora vereadora (e arquitecta) Helena Roseta traiu as convicções do movimento de parvos cidadãos que a apoiava – agora que parece ter ficado decidido (não sei bem por quem?) que só fica a poder empilhar-se contentores até uma altura de cinco (2,6x 5= 13,0 metros, só treze metros!) na doca de Alcântara – em troca do lugar de vice de António Costa, para ver se consegue apanhar alguns projectos municipais (ou, como se diz agora, de iniciativa municipal) quebrando o regime de exclusividade alimentar do vereador (e arquitecto) Manuel Salgado.
O PSD perdeu (nem outra coisa seria de esperar) por causa da extraordinária falta de inteligência dos seus líderes. Tal como acontece na minha própria corporação profissional e em inúmeras outras, bem como na maioria das associações (desportivas, recreativas e até – pasme-se – aquelas ditas de solidariedade) alguns chicos-espertos continuam a pensar que obtém alguma vantagem ao denegrir o seu colega profissional ou o seu companheiro associativo. O que acontece, ao contrário, é que ao destruírem a imagem desse grupo a que pertencem, destroem a sua própria imagem , a sua própria credibilidade e o seu próprio futuro.
É claro que o espertalhão engatatão cidadão Santana Lopes haveria de perder a Câmara porque ele próprio, com uma grande ajuda dos seus companheiros de partido, já havia tratado de destruir a sua própria credibilidade – de forma bastante definitiva, ao que parece.
Mas, neste caso, quem perdeu mesmo foi a cidade Lisboa e os lisboetas, os quais só podem mesmo imputar as culpas à sua tremenda falta de memória colectiva, pois parecem ter-se esquecido completamente porque razão haviam dado a vitória no passado recente ao dito Santana Lopes. E agora vão apanhar um período “neo-joão-soarista” que lhes vai tornar a vida num inferno (ainda maior). É lamentável, mas merecido.
Quanto aos resultados em Oeiras também não concordo com o que por aí se diz nos blogues, sobre a alegada falta de ética dos eleitores do Concelho de Oeiras por terem votado no Isaltino Morais. Talvez isso se fique mais a dever à falta de qualidade dos seus adversários.
Quem são, em termos de relevância política claro, Amílcar Campos e Isabel Meirelles (com dois éles)? Quem escolhe estes desconhecidos como opositores de um homem como Isaltino está no mínimo a substimá-lo e não deveria admirar-se dos resultados.
Já o rapazola jovem Perestrello (também com dois éles – que coincidência!) é cara conhecida – ou deverei dizer promovida – num qualquer programa televisisvo de debate político. Não sei como se chama o programa, mas já vi duas ou três vezes e repugna-me o ar enfatuado, convencido – uma pseudo superioridade baseada, provavelmente, no argumento “eu sou do partido da maioria” (era) – com que o dito Perestrello (com dois éles) se dirige aos seus comparsas e à entrevistadora. E era isto que o PS pensava poder vencer o esforçado e muito popular (diria mesmo de trato humilde) Isaltino Morais?
Talvez a mensagem dos eleitores de Oeiras seja mesmo, ao contrário do que dizem, de grande valor ético? Talvez ela seja qualquer coisa do género: não vale tudo, mesmo em política, e a deslealdade daqueles (neste caso daquelas) em quem o líder depositou a sua confiança é inaceitável.
Afinal, a simples lição que um dia o autor e senhor da minha vida me fez aprender e que a partir daí eu tento transmitir ao meu semelhante: os fins nunca justificam os meios.
Um bom tema para reflexão das cúpulas partidárias deste país – com especial relevância para o PSD – se nelas houvesse um mínimo de humildade, coisa que duvido sinceramente.
Muitas outras histórias haveria para contar destas autárquicas, mas a disponibilidade não mo permite.
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Nota final: Encerro, assim, a minha colaboração neste projecto conjunto designado Novo Rumo, grato e honrado pelo convite que me foi feito a 29 de Julho e que viria a aceitar no dia 7 de Agosto de 2009. Foi um gosto ter participado convosco.
Despeço-me de todos com um abraço de amizade.
Até sempre,
(zedeportugal)