Riscar o que não interessa
A blogue-conferência com Francisco Louçã decorreu durante quase três horas num cenário palaciano, com o próprio a assumir: «o nosso objectivo é ganhar as eleições na Internet».
Apesar do habitual apelo à necessidade de regras, mais regras, eu quero regras, Louçã fez um evidente esforço de seduçao da blogosfera, mostrou-se particularmente aberto, de um tal bom humor que chegou até a aceitar ser rotulado de «esquerda não democrática», tendo a abertura roçado a simpatia pelo liberalismo aquando o uso da expressão “muito estatal” com conotação negativa a propósito do estado das coisas na cultura (se bem que logo a seguir tenha dado exemplos de boas intervenções do Ministério da Cultura).
Mas a verdade é que a operação-sedução que Louçã montou não lhe era necessária. O confronto mais intenso que ocorreu veio da esquerda (motivada pela defesa do PS), sendo que a participação dos blogues de direita (salvo excepções) se resumiu a pessoalismos e a um tom de provocação/ gozo, e isso em detrimento de um confronto sério de ideias e de questionamento sobre a legitimidade das propostas do Bloco de Esquerda para estas eleições.
Assistir ao debate leva qualquer observador a pensar que as diferenças entre grande parte da “direita” portuguesa e o Bloco de Esquerda são sobretudo de estilos, pormenores e ajustes, e não de ideologia, de fundo socialista.
É em momentos destes que Portugal parece um grande concurso de quem é realmente de esquerda (revolucionária), (democrática), (liberal)? – [riscar o que não interessa].