Paradigma perdido da "justiça" social
O Paulo é consultor imobiliário. O que significa que os seus ganhos dependem do seu sucesso profissional - comissões de suas vendas. O contrato que fez com seu "patrão", João, foi um contrato de prestação de serviços. Não tem subsídios de coisa nenhuma e as férias é ele quem planeia, em coordenação com outros consultores. Não têm um período definido, pois dependem também do seu desempenho durante o ano. Quantas mais comissões conseguiu, mais tempo e subsequentemente dinheiro ele poderá dispor. João não o obrigará a nada pois não quer perder um bom consultor que faz a agência ganhar bom dinheiro. Mas, nem tudo são opções, pois Paulo e João são obrigados a deduzir uma percentagem escandalosa para uma "segurança" social que não utilizam no momento presente e não sabem se irão usufruir no futuro, e têm obrigações fiscais superiores a outros trabalhadores por conta d'outrém. Inclusive daqueles que têm salário fixo independentemente do que produzem. Daqueles que fazem greve se alguém decide que devem ser avaliados, fazem greve se não têm o aumento que desejariam ou o que o sindicato indicou.
Ao fim de um ano Paulo e João trabalharam de sol a sol no mínimo seis dias por semana e descontaram de seus ganhos uma percentagem superior a todos os outros trabalhadores. Não fazem greve, não porque não possam mas sim porque não lhes serviria de nada. As férias e os seus cuidados de saúde - não me refiro ao SNS por razões óbvias - são pagos do seu próprio bolso, cujo conteúdo resultou do sucesso do seu trabalho.
Os outros recebem subsídios vários e têm acesso a estabelecimentos de saúde privados e de qualidade através da ADSE, porque muitos como João e o Paulo descontam balúrdios.
Nem todos os portugueses são nem poderiam ser consultores comerciais nem pofissionais liberais, é certo. Mas por que é que são sempre os mesmos a pagar as crises e as mordomias daqueles que nunca estão satisfeitos com nada que lhes cai do dinheiro dos outros?