Mea culpa
Na verdade, compreendo que os políticos defendam o rendimento mínimo. Também eles o recebem, apenas variando o valor recebido.
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Na verdade, compreendo que os políticos defendam o rendimento mínimo. Também eles o recebem, apenas variando o valor recebido.
O PSD veio agora falar em "suspender o TGV, para o reavaliar depois" e rever alguns detalhes, como confessou Paulo Mota Pinto há dias em entrevista. Ora, sabe-se que a ideia que o PSD tem vindo a fazer passar é que "é contra o TGV", ponto. É o estilo Sócrates, o estilo do "Objectivo 150 mil empregos", que muita gente enganou em 2005.
Está visto que a Política de Verdade do PSD é uma grande aldrabice.
Um dos argumentos preferidos do estatismo para justificar a existência do estado social é que sem ele haveria o caos, a desordem, os pobres sairiam à rua, seria em suma o apocalipse como apresentado no último livro da Bíblia.
O que subjaz a esta ideia é a preocupação dos estatistas com os interessados da ordem e da paz sociais: os ricos e os proprietários remediados.
Mas se a preocupação é genuina, a ideia do estado social é um pouco contraproducente. Em primeiro lugar, os pobres andam a aperceber-se que "os ricos estão cada vez mais ricos" e que "há cada vez mais pobres". Missão falhada, o sentimento de revolta nos pobres não diminui, aumenta. Em segundo lugar, a economia de um país é sujeita a crises cíclicas. Ora, na ocorrência de uma grande crise, a paz social não poderá ser garantida pelas forças da ordem governamentais - o mais certo até é estas juntarem-se á revolta, como aconteceu na nossa revolução. Missão falhada, novamente.
A preocupação apresentada pelo estatismo é: se os "ricos" não contribuirem para a sociedade, arriscam-se a serem roubados. Esta ideia esquece-se que os "ricos" já contribuem (mesmo que forçadamente) com impostos, e que em rigor sempre contribuiram. Mas se assim é, e se a inquietação com a preservação patrimonial dos ricos e remediados é verdadeira, deixemos os tais "ricos" equiparem-se de armas, protegerem-se com seguranças privados armados ou deixemo-los formar milícias.
Saquea-los com a justificação de os querer proteger é: 1. contraproducente, 2. hipócrita.
Os políticos, dizem-me, servem para nos representar, para "fazer obra", para elaborar novas leis ou ainda para nos proteger.
Mas, sendo que raramente se vê um político acabar a sua carreira política a meio (digamos, com uma idade entre os 40 ou 50), é de duvidar que a motivação que move a classe seja o interesse público. Não me parece que seja. Se assim fosse, após meia dúzia de anos, iam embora, retornando ao anterior emprego com o acrescido sentido do dever cumprido.
Ora, como Madres Teresas há poucas (gente que dedica de forma inexplicável a vida toda a causas que considera justas), pode-se concluir que os políticos exercem a sua actividade para fins próprios (enriquecimento pessoal, protagonismo com finalidades diversas, sede de poder, nepotismo, etc). Como os fins apresentados contradizem os fins reais, podemos facilmente ver que os nossos políticos não servem para nada.
O que seria de nós sem eles?
Estaríamos melhor, disso não tenho dúvidas.
Paulo Portas, honra lhe seja feita, é o único político a falar do rendimento social de inserção (antigo rendimento mínimo garantido - nome, aliás mais honesto). Mas depois, certamente para não chocar e não perder mais uns votos, tem o cuidado de se indignar: ele não é contra o rendimento mínimo, mas sim contra o "abuso" na sua atribuição. Longe dele querer tirar o mesmo a quem "mais precisa" ou "está comprovadamente à procura de emprego". Deve-se dar o dinheirinho com "bom senso" e "critérios".
Apoiar estes ou aqueles com dinheiro alheio é fácil, faze-lo com o próprio dinheiro custa mais. Mas como é o parvo do contribuinte a pagar, está tudo bem para os políticos. Vão jogando numa do dá mais aqui ou menos ali, mantendo tudo na mesma.
Com uma direita assim, não precisamos de esquerda.
E assim vamos, felizes e contentes.
Outro facto que ressai do episódio das listas do PSD é o desrespeito da direcção de Manuela Ferreira Leite pelas estruturas locais. Este fenómeno caracteriza-se por, basicamente, mandar-se para cabeça de lista do distrito X um reputado militante lisboeta que nada tem a ver com a terra que irá representar. Os mais informados dirão que os deputados são “deputados da nação”. Mas enquanto não existir um círculo nacional, teremos este conflito de interesse: um deputado eleito por Faro, ou bem que põe Faro acima de qualquer interesse, ou bem que é um deputado escolhido pelo rei para governar (neste caso, representar) a colónia longínqua. Não por acaso, as elites dos partidos que temos não querem saber dos círculos uninominais: tudo o que retire poder à casta dominante é de evitar a todo o custo. É da natureza, quem tem poder não o quer perder.
Por isso mesmo, é tempo que as elites das respectivas regiões acordem e tomem o seu destino em mãos. Isso implica que, a norte como a sul ou nas ilhas, as elites locais pensem na criação de partidos regionalistas. E de preferência com gente desprendida face ao poder, empresários instalados e com influência, personalidades carismáticas com poder de atracção ou gente da cultura com peso. Os políticos locais e regionais (tirando Alberto João Jardim) apesar de se curvarem regularmente perante “Lisboa”, poderiam trazer os apoios do antigo partido para o novo movimento regionalista. Com uma Liga do Norte (encabeçado por um Belmiro ou um Pinto da Costa) ou um Partido da Madeira (chefiado pelo populista – no bom sentido – Alberto João Jardim), este abuso de poder das manuelas acabava.
Tem-se visto a algazarra que provocou a (não-)renovação dos candidatos a deputado pelo PSD. Não há caras novas, sangue novo, uma "nova energia" e gente dos blogues nem vê-los. Mas se tudo isto é verdade, não deixa de ser um pouco irrelevante. Interessante seria que estas caras novas tivessem ideias diferentes das dos velhos deputados. Ora, não têm. Na realidade, esta “renovação” só peca por não produzir efeitos de cosmética, por não revitalizar o arsenal criativo dos media, bem como o de twitteiros sarcásticos, do Inimigo Público e de blogueiros mais antigos e fartos há muito das mesmas caras. Com ou sem renovação, o PSD irá manter-se como é: social-democrata, imobilista, conservador, corporativista.
Desde já quero saudar os meus parceiros de blogue. E que tudo corra bem.
Não tenho qualquer esperança de que venha a governar um partido que defenda ideias liberais em Portugal. Aceitei participar neste blogue porque entendo que os liberais têm a responsabilidade de demonstrar a imoralidade do actual sistema, num país onde as pessoas são educadas para o socialismo e o estado-mama. Os partidos que temos, além de não terem interesse em faze-lo, não têm gente intelectualmente livre e desprendida, vivem do estado e percebem (bem) que sem a demagogia socialista não conseguem votos. Apesar de ter preferido para o blogue um nome diferente (“blogue do contribuinte” ou “geração futura”, por exemplo), o escolhido não deixa de agradar: é de um Novo Rumo que os portugueses precisam, uma nova forma de ver a política.
Este novo rumo, a meu ver, implica perder as ilusões na reforma do estado. Pelo menos de alto para baixo (de governo para sociedade), isso não irá acontecer. Não conheço uma democracia que esteja numa tendência liberalizante, com o estado a diminuir. As democracias, e principalmente a nossa, tendem para o populismo e para a instalação do parasitismo (nas reformas, na saúde ou na economia cada vez mais intervencionada à custa da livre empresa). Esperar que o povão vote em partidos que proponham o desmantelamento da educação nacional, do SNS, ou da segurança social é vão, jamais tal acontecerá.
É certo que vê-se por aí muito descontentamento com “os partidos” e “os políticos”. Mas tirando indignações por “eles não fazerem nada” (isto é, não “darem” mais apoios nisto e naquilo) ou por serem “uma cambada de corruptos” e aldrabões, vejo poucos a apontar onde é preciso: a inutilidade dos políticos, a mentalidade da teta que constantemente promovem, a imoralidade socialista que todos os partidos defendem (o cds não é excepção), a necessidade de uma economia forte e livre e o fim do parasitismo.
Votar útil poderá ter a sua razoabilidade, mas tem um custo enorme: a manutenção do regime como está. Nenhum partido quer reformar o estado.
Por isso, o caminho passa por apelar aos grupos parasitados, como os contribuintes (líquidos) ou em geral as gerações mais novas (que no futuro vão ter que pagar as dívidas agora criadas e que pagam as reformas de idosos que não contribuíram) para que se mobilizem. A presente social-democracia em que vivem não é eterna e terá de ser feito algo quando ela entrar em colapso. Quando não houver dinheiro para pagar o estado-mama, são estes grupos sociais que tratarão de si, sem partidos e sem ideologias da treta.
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